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Ativos Digitais e Regulação: O Que Você Precisa Saber

Ativos Digitais e Regulação: O Que Você Precisa Saber

09/11/2025 - 21:44
Marcos Vinicius
Ativos Digitais e Regulação: O Que Você Precisa Saber

O mercado de ativos digitais no Brasil vive um momento de transformação profunda. As recentes resoluções do Banco Central representam um marco decisivo para integrar as criptomoedas ao sistema financeiro tradicional. Investidores e empresas devem estar preparados para atender às novas normas, garantindo segurança e conformidade.

Um novo marco histórico

Em 10 de novembro de 2025, o Banco Central do Brasil publicou as resoluções BCB nº 519, 520 e 521, consolidando as regras para negociação de ativos digitais. Estas normas entram em vigor em 2 de fevereiro de 2026, transformando o cenário regulatório e revogando disposições anteriores.

O tratamento das criptomoedas como um segmento do sistema financeiro tradicional surgiu com a Resolução Conjunta nº 14 e a Resolução BCB nº 517, trazendo transparência e segurança jurídica. Esse movimento alinha o Brasil às principais jurisdições globais, criando um ambiente mais confiável para todos os participantes.

Objetivos estratégicos da regulamentação

A regulação promulgada pelo Banco Central busca consolidar um cenário mais seguro e transparente. Entre as metas centrais, destacam-se:

  • Maior segurança e transparência para proteger investidores e mitigar riscos de insolvência em corretoras
  • Alinhamento com padrões globais para reduzir riscos operacionais e atrair investimentos
  • Combate incisivo à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, visando reduzir fraudes financeiras
  • Posicionamento do Brasil na vanguarda como polo regional de finanças digitais e inovação tecnológica

Ao alcançar esses objetivos, o país fortalece sua reputação e cria bases sólidas para o crescimento sustentável do ecossistema cripto.

Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais

As SPSAVs são o novo pilar institucional para serviços de ativos digitais, incluindo intercâmbio, custódia e corretagem. Para se registrarem, essas empresas devem ter sede ou administração no Brasil e obter autorização formal do Banco Central.

O modelo classifica as SPSAVs em categorias distintas, cada uma com responsabilidades e requisitos específicos:

Esse arranjo institucional visa criar um mercado organizado, diminuindo riscos e promovendo a especialização dos serviços.

Requisitos de autorização e supervisão

As SPSAVs, corretoras e distribuidoras precisam atender a vários requisitos antes de iniciar operações. Entre as exigências principais, estão:

  • Controles internos e políticas de segurança operacional robustas
  • Governança corporativa estruturada com transparência, com ao menos três diretores para funções-chave
  • Conformidade com normas de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo

O Banco Central exercerá supervisão direta sobre essas instituições, aplicando as mesmas práticas de fiscalização usadas em bancos e fintechs. A revisão de políticas deve ocorrer a cada dois anos, garantindo atualização constante dos processos internos.

Proteção ao investidor e segregação de carteiras

Um dos pontos mais inovadores da regulação é a obrigatoriedade de separar o patrimônio da empresa do capital dos clientes, evitando colapsos como o do FTX em 2022. A medida fortalece a confiança no mercado e protege recursos sob custódia.

  • Contas individuais em nome dos clientes, com registros transparentes
  • Carteiras distintas para recursos próprios e de terceiros
  • Auditorias independentes bienais e relatórios públicos de prova de reservas

Além disso, a proibição de combinar intermediação e custódia estabelece uma barreira eficaz contra conflitos de interesse.

Operações internacionais e câmbio

As novas diretrizes criam um marco claro para transações internacionais envolvendo ativos digitais. Transações de até US$ 100 mil podem ocorrer sem instituição autorizada em câmbio, mas devem ser reportadas ao Banco Central.

Stablecoins entraram formalmente no regime cambial, sendo tratadas como moedas estrangeiras. As empresas devem identificar titulares de carteiras autocustodiadas e apresentar informações detalhadas sobre origem e destino dos recursos.

Essa estrutura permite o uso legal de criptomoedas em pagamentos e recebimentos internacionais, desde que feitos por prestadores autorizados, ampliando as possibilidades de comércio exterior digital.

Transparência e reporte ao Banco Central

A partir de 4 de maio de 2026, todas as operações internacionais com ativos virtuais deverão ser comunicadas ao Banco Central do Brasil. Os dados incluem valores transacionados, contrapartes, finalidades e países de origem e destino.

Essa ampla coleta de informações visa integrar o relatório de ativos digitais às estatísticas oficiais de câmbio e capitais estrangeiros, oferecendo ao regulador uma visão completa e em tempo real dos fluxos financeiros ligados às criptomoedas.

Dicas práticas para investidores

Para quem deseja atuar com segurança no mercado de ativos digitais, algumas boas práticas podem fazer diferença. Escolha prestadores de serviços devidamente autorizados pelo Banco Central e que publiquem relatórios de auditoria independentes.

Adote estratégias de diversificação, distribuindo investimentos entre diferentes ativos e provedores. Fique atento às atualizações regulatórias e participe de comunidades sérias, onde riscos são discutidos abertamente.

Mantenha as chaves privadas armazenadas em ambientes seguros, preferencialmente em carteiras frias, e evite compartilhar informações sensíveis em redes abertas.

Impactos no mercado e oportunidades

A regulação deve gerar um ambiente mais competitivo e transparente. Embora empresas menores enfrentem desafios de compliance, grandes instituições têm maior capacidade para cumprir as exigências de capital e segurança.

Investidores ganham maior confiança, reduzindo exposição a esquemas fraudulentos. A clareza regulatória tende a atrair capital estrangeiro e incentivar inovação tecnológica, com surgimento de novos produtos baseados em blockchain e contratos inteligentes.

Perspectivas futuras

O Brasil dá um passo importante rumo à digitalização financeira, mas o processo de maturação do mercado continua. Adaptações tecnológicas, capacitação de equipes e desenvolvimento de infraestrutura DLT serão cruciais.

Espera-se que, nos próximos anos, o país amplie sua participação em projetos de finanças descentralizadas (DeFi) e tokenização de ativos reais, impulsionando a competitividade global.

Manter-se atualizado e orientar-se pelas boas práticas de mercado é fundamental para aproveitar o potencial dos ativos digitais com segurança e responsabilidade.

Marcos Vinicius

Sobre o Autor: Marcos Vinicius

Marcos Vinicius